2 de abr. de 2009

VINGANÇA DE PIÁ

Falei... Eu falei que não iria dar certo esse negócio de escrever toda semana. Não que esteja muito atarefado mas, realmente, isso não é das coisas mais simples da vida, ainda mais tendo de escrever para um público que nem sabe quem sou, tendo de ficar inventando, inventando não, contando historias daquilo que fui no passado.

E ai alguém por ai comenta: Ah, conheci ele, me lembro dele, morava aqui. O pai era gerente das Pernambucanas. Mas, afora isso, que interesse pode ter pra moçada de Uruguaiana num cara que mora no Rio de Janeiro e que nem é ator contratado da Globo. Se fosse... ou poderia ser um BBB. BBB? Não, isso não, que participar do Big Brother é quase uma ofensa pessoal, seria depreciar demasiado minha pessoa.

Então vamos lá: Segundo noticias que me chegaram lá das beiradas do Uruguai, houve gente, uns poucos, que gostou do que escrevi sobre o passado da cidade. Um passado tão distante que acho difícil que interesse a alguém. Em todo caso, já que querem, vamos abrir aqui o livrinho da memória, procurar coisas que aconteceram, que se passou por lá. Pequenas anedotas...

Havia um construtor na cidade chamado Eurico Coccaro proprietário de uma "fubequinha", uma caminhonete Ford de bigode, muito conceituada porque, alem do seu uso normal, era quem transportava parte da animada torcida do Sá Viana F.C. na volta de gloriosas tardes de domingo após nossas retumbantes vitórias contra o Uruguaiana e o Ferro Carril.

O Coccaro estava construindo ao lado da Pernambucana, na Rua Domingos de Almeida, não sei se ainda hoje existe, um conjunto de apartamentos onde viria a residir o recém casado Rene Ormazabal, filho do Eustaquio Ormazabal, um dos grandes empresários da cidade. Naquela época os andaimes de obras eram construídos de madeira, postes de eucalipto com pranchas atravessadas fazendo o andar onde trabalhavam os operários. Na calçada era colocada em grandes montes a areia lavada para uso na obra. Aquilo para gurizada era uma "atração fatal" porque a maior diversão nossa era subir no andaime e, quando os empregados iam embora, de lá pular nos montes de areia espalhando o material todo pela calçada. Era infernal...

Até que um dia o Eurico perdeu a paciência com a gurizada e foi lá na loja e me denunciou para o "seu" Rafael del Cueto, contando que eu meus amigos pulávamos dos andaimes, espalhávamos areia... uma bagunça. Resultado: Tomei umas lambadas do meu pai. Tomei e fiquei profundamente magoado com o "seu" Coccaro. Isso é coisa que se faça... denunciar uma brincadeira inocente.

E resolvi tomar minhas providencias. A vingança. Vendeta.

Naquela época havia no deposito da loja muitas cordas de boa qualidade que vinham amarrando os fardos de tecidos. Tratei de arrumar logo uma bem comprida e resistente e preparei minha vingança.

Num outro dia, quando o Coccaro encostou a caminhonete, de ré, na porta da obra, peguei a corda e amarrei no eixo traseiro da fubica e no pé do andaime. A minha intenção é que quando o delator tentasse sair com o veiculo ele ficasse preso no andaime. Eu ira me divertir com a cara dele.

Só que eu não contava o que aconteceu: Quando o Coccaro foi sair, a caminhonete estancou, ele meteu-lhe uma primeira marcha e foi em frente, deu um tranco no pé do andaime derrubando tudo inclusive dois pedreiros que lá de cima caíram no monte de areia. Uma tragédia. Não, uma tragédia, um desastre na obra...

Não preciso dizer que o resultado disso tudo foi outra surra e... um momentâneo ódio mortal ao Eurico Coccaro que se tornou mais tarde meu grande amigo.

Por ai da para ver que minha geração por sorte não se transformou num bando de marginais.

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